Rodolpho Telarolli foi uma das memórias mais ricas de Araraquara
Durante boa parte de sua vida, Rodolpho Telarolli passou contando histórias. Foram muitas e ninguém, como ele, soube tão bem descrever Araraquara com tantas nuances e detalhes. Ia além do que a imaginação pudesse alcançar.
Sua paixão pela cidade foi registrada em vários trabalhos de graduação, artigos, reportagens, palestras e livros. Telarolli nasceu no dia 10 de setembro de 1933. Filho de um argentino que veio arriscar a vida no Brasil e aqui se tornou pedreiro, o garoto teve que trabalhar logo com oito anos ajudando o pai nas construções.
Teve uma infância modesta, em uma casa pequena, na Vila Xavier, com os pais e mais sete irmãos. Com 12 anos começou a trabalhar na Prefeitura e lá desempenhou vários papéis. Em 1952, com 29 anos, prestou o primeiro concurso público municipal e passou em primeiro lugar.
Como funcionário de carreira, foi lançador de tributos. Em 1972, quando deixou o Executivo, era diretor da Fazenda da gestão do prefeito Rômulo Lupo. Telarolli fez curso técnico de contabilidade e magistério, onde conheceu a mulher que seria sua grande companheira, Estela Sylvia Amaral, uma professora que o ajudou a ministrar suas primeiras aulas no Serviço Brasileiro de Aprendizagem Comercial (Senac). Por sinal, aulas disputadas.
Ele era muito querido pelos alunos e, segundo Teresa Telarolli, sua filha, foi como professor secundário que ele se realizou profissionalmente. “Ele adorava dar aulas e chegou a ser diretor da escola estadual Professor Victor Lacorte, no Carmo.” Mas antes mesmo de sair da Prefeitura, Telarolli decidiu voltar a estudar e buscou o curso de História. “Neste momento uma nova paixão aflora em meu pai”, diz Teresa. Foi durante o mestrado que Rodolpho Telarolli acabou incorporando o contador de histórias sobre Araraquara. Sua dissertação foi sobre o linchamento dos Britos, um crime que chocou a cidade em 1889. “A dissertação dele causou certa polêmica, porque até então pouco ou nada se contava sobre este fato histórico que deixou uma ferida enorme aberta na cidade. Meu pai conseguiu reviver a época, encontrou personagens que depois de anos em silêncio contaram o que ocorreu”, relata Teresa.
Em 1976, Telarolli prestou concurso para ser professor da Unesp e vai morar em Marília. Um ano depois, foi transferido para Araraquara e passou a dar aulas no curso de Ciências Sociais. Em 1983, com 50 anos, Telarolli se aposentou e passou a dedicar seu tempo à família e às pesquisas.
“Quando ele se aposentou, começou a viajar, ouvir histórias e a estudar muito. Nesta época pouco se contava de histórias do cotidiano. O que ouvíamos era história geral e meu pai se aventurou a escrever a história de Araraquara. Foram muitos livros”, conta Teresa.
“Ele era muito comprometido com o seu trabalho e se tornou referência por causa disso. Sempre atendia pessoas em casa, as que vinham para contar ou para ouvir histórias”, acrescenta. O último livro, Para uma história de Araraquara, foi lançado após sua morte, em 2001.
DEFENSOR - Telarolli era um defensor das causas ambientais e do patrimônio histórico. Em 1997, ele se engaja junto com Francisco Carlos Barbeiro, na divulgação fotográfica chamada “Este mesmo lugar no passado”, que tinha o objetivo de chamar a atenção das pessoas para as transformações ocorridas na cidade e os danos causados ao patrimônio histórico.
“Ele tinha prazer em defender Araraquara em uma época que pouco se falava sobre sustentabilidade, preservação e meio ambiente. Ele era um cidadão consciente e sempre brigou para que a cidade não modificasse seus espaços verdes. Ele fazia movimentos, abraçava árvores, uma vez deitou no chão para não cortarem uma árvore centenária, mas pouco adiantou, quase passaram com o trator por cima dele”, relembra Teresa.
Em 1997, recebeu título de Cidadão Benemérito e em abril de 2001 ajudou a montar o arquivo histórico de Araraquara, que recebeu seu nome após sua morte. “Parte dos documentos que remetem à história da cidade, tudo que era objeto de estudo em casa, ele doou para o arquivo”, diz ela.
Outra paixão, que o historiador alimentou durante a vida foi pelo Corinthians. “Torcedor fanático, se o Corinthians perdia, ele nem saía de casa”, diz ele. Rodolpho Telarolli morreu em junho de 2001, depois de anos lutando contra um câncer. Mas ficou eternizado em suas obras e pesquisas sobre a história de Araraquara.
Publicado em 23/07/2012 por Fernanda Manécolo do portal K3 - Notícias da região.
http://www.portalk3.com.br/Artigo/personagens/um-pouco-da-historia-do-historiador-telarolli
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